O aumento nos preços do trigo produzido na Argentina, aliado à alta nas despesas de logística para importação do país vizinho, valorizaram o cereal adquirido pelos moinhos do Brasil. Para rear os custos, os moinhos planejam um reajuste médio de 5% a 8% nos preços da farinha, diz o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo (Sindustrigo), Christian Saigh. Segundo o executivo, a variação tende a ficar notável para o consumidor ainda neste mês e os valores finais vão depender do tipo de produto adquirido e da região de fabricação.
Atualmente, o Brasil está importando cerca de 55% do trigo demandado pela indústria moageira e, de acordo com Saigh, na Argentina, principal fornecedor, os preços têm girado em torno de US$ 200 por tonelada FOB, 14% superiores aos de fevereiro. "Más condições climáticas afetaram as lavouras argentinas de soja e milho. Como o produtor de lá ainda não sabe quanto vai colher nessas duas culturas, ele está segurando a comercialização do trigo, como reserva de valor. Quando o agricultor souber melhor o tamanho da safra agrícola, ele tende a começar a vender mais", explica Saigh.
A Bolsa de Cereais de Buenos Aires revisou, ontem, as projeções para a colheita de soja no país, a 42 milhões de toneladas, 2 milhões a menos ante o levantamento anterior, feito há uma semana.
O número também é 12 milhões de toneladas inferior ao previsto no começo da temporada e 15,5 milhões de toneladas menor que o total colhido em 2016/17. Além disso, não está descartada a possibilidade de novas revisões para baixo na produção da oleaginosa do país, que, com o clima seco, já teve recuo superior a 700 mil hectares.
Com relação ao transporte, os fretes tanto aéreos quanto terrestres sofreram um reajuste médio de 10%. Defasagem nos valores antigos, aumento das despesas com folha de pagamento e combustíveis foram as justificativas dadas à indústria de trigo para o aumento no custo de logística. "Essa conjuntura fez com que os valores do trigo subissem no Brasil e, quando há esse tipo de elevação, os moinhos não têm como segurar o ree para a farinha", afirma o presidente do Sindustrigo.
O indicador de preço médio do trigo Cepea/Esalq registrou R$ 590,98 por tonelada para o trigo brando no Rio Grande do Sul na quinta-feira (8), alta de 3,13% na variação mensal. No Paraná, o índice para o cereal do tipo pão no Paraná fechou próximo da estabilidade na mesma data, a R$ 678,64 por tonelada, ligeira queda de 0,29% na variação mensal.
Em regiões como Ponta Grossa (PR) as negociações com trigo destravaram relativamente. Lotes rodaram por R$ 700 a R$ 710 CIF Ponta Grossa para embarque imediato e pagamento em 30 a 40 dias. Em Curitiba (PR), os preços para os mesmos prazos e condições alcançavam R$ 720 a R$ 730 por tonelada. "Com a entrada da colheita da soja pessoal que tem trigo estocado precisa abrir espaço no silo", diz Adriano dos Santos, corretor da SafraSul. Os preços vêm se mantendo desde a semana ada para cá. Santos diz que os lotes que saem são pontuais, com comprador buscando mais o cereal nacional em relação aos dois primeiros meses do ano. "O moinho compra um pouco do trigo nacional pra misturar com o importado. Além disso, com altas do grão na Bolsa de Chicago e na Argentina, a demanda se voltou para o mercado interno", diz Santos, lembrando que há alguns dias vendedor já vinha propondo R$ 700 por tonelada, mas, com a demanda fraca, não havia acordos.
Sobre os gaúchos, o corretor da TS Corretora de Grãos, Ricardo Seghetto, afirma que os moinhos estão abastecidos e em como de espera. Vendedores só rodam negócios na faixa de R$ 550 a R$ 560 por tonelada FOB em regiões como Missões, Planalto Médio e Meio Central do Rio Grande do Sul. Em contrapartida, compradores pedem cerca de R$ 530 por tonelada do cereal do tipo pão. "Em lavouras que cultivam soja precoce, a colheita já começou e muitos negociantes não têm espaço para carregar o trigo ou para armazenar, com isso este mercado tende a ficar um pouco mais parado por enquanto. Acredito que em meados de abril os negócios de trigo podem voltar a rodar normalmente", estima Seghetto.
Na ponta final, o reflexo já é previsto. A M. Dias Branco, companhia fabricante de biscoitos e massas, disse a analistas nesta semana que está aplicando um reajuste médio de 4% no valor do portfólio de produtos, em razão do aumento nas despesas. "Temos uma perspectiva de preços maiores (no trigo) e estamos fazendo rees, aplicando novas tabelas, (cujos resultados) devem ficar visíveis nos demonstrativos do segundo trimestre deste ano. Os custos estão mais elevados e acreditamos que será possível fazer os reajustes para manter o nível do produto que trabalhamos", afirma o vice-presidente de Investimentos e Controladoria da companhia, Geraldo
Luciano Mattos Júnior. Questionado por participantes sobre o reflexo da seca na Argentina, o diretor de Novos Negócios e Relações com Investidores, Fabio Cefaly, destacou que as condições do país vizinho podem contribuir para "termos mais espaço para o aumento de preços" internos. (Nayara Figueiredo, [email protected])
Fonte: Broadcast